segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Setor calçadista retoma crescimento e atinge recorde de vendas em 2010


No ano, foram comercializados 744 milhões de pares de calçados.
38ª feira internacional do setor de calçados e couro teve início nesta 2ª, dia 17 de janeiro.


Anay Cury
Do G1, em São Paulo

Nem a desvalorização cambial, nem a concorrência asiática, impediram a recuperação do setor calçadista brasileiro no ano passado: impulsionadas pelo aquecido mercado interno, as vendas de sapatos registraram em 2010 o melhor resultado da década, e contribuíram para a retomada do crescimento do ramo, segundo levantamento das associações que representam as indústrias e o varejo.
Ao longo do ano passado, o comércio brasileiro vendeu 744 milhões de pares de calçados, um crescimento de 6% em relação a 2009, quando 702 milhões foram comercializados. Em 2008, ano marcado pela crise financeira mundial, o consumo subiu, mas em menor proporção: 3%, com 669 milhões de pares vendidos. Em 2010, em termos de valores, o setor contabilizou a venda de R$ 37,7 bilhões, contra R$ 33,5 bilhões em 2009 – avanço de 12,5%.
Os números fechados de 2010 pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) e pela Associação Brasileira de Lojistas de Artefatos e Calçados (Ablac) devem ser apresentados nesta semana, em São Paulo, durante a 38ª Feira Internacional de Calçados, Artigos Esportivos e Artefatos de Couro (Couromoda).
Contribuiu para esse resultado a expansão do crédito e da renda dos consumidores, que passaram a comprar produtos de maior qualidade e mais caros, segundo o presidente do evento e diretor da Abicalçados, Francisco Santos. De 2009 para 2010, o preço médio dos pares de sapato passou de R$ 47,72 para R$ 50,68 - aumento de 6,2%.
“A cadeia produtiva do país está sofisticada, e os calçados, por conta da concorrência, estão com mais valor agregado e sendo vendidos a preços mais competitivos do que no passado. Isso é um estímulo para os consumidores, que têm contado com maior poder aquisitivo e comprado mais sapatos do que em anos anteriores”, afirmou Ana Caroline Fernandes Nonato, do Programa de Administração de Varejo (Provar), da Fundação Instituto de Administração (FIA).
A penetração de marcas populares também tem impulsionado as vendas no mercado interno. “O acesso ao consumo proporcionado pelo boom econômico abre um novo leque de clientes em todas as faixas sociais. Essas marcas mais populares permitem que as pessoas comprem dois ou mais pares em vez de um só, por exemplo”, disse Santos. No país, o consumo per capita por ano é de cerca de quatro calçados, segundo dados do Censo de 2010.
“O setor calçadista entendeu as mudanças de comportamento dos consumidores, mudou sua cadeia de produção e o próprio varejo também mudou. O sapato passou de um item básico para um item de moda. Muitos trocam de sapato conforme as coleções mudam”, afirmou Heloisa Onine, professora da pós-graduação em Comunicação com mercado, da ESPM.
Made in Brazil
O desempenho positivo verificado no mercado interno também se repetiu nas exportações, que tentam retornar ao nível pré-crise, tendo ainda de enfrentar a concorrência dos produtos asiáticos e a desvalorização do dólar, que torna as importações mais vantajosas.
As estimativas do setor apontam que, em 2010, foram exportados perto de 140 milhões de pares de calçados, movimentando cerca de US$ 1,4 bilhão. Em 2007, os negócios somaram US$ 1,9 bilhão. Nos anos seguintes, a queda se manteve. Em 2008, as vendas chegaram a US$ 1,8 bilhão e, em 2009, caíram para US$ 1,3 bilhão.
“O setor está saudável, mas estamos atentos à condução política do país neste início de ano. Temos de esperar do governo medidas que melhorem e devolvam nossa competitividade no mercado internacional, além de uma política tributária mais equilibrada e da resolução dos gargalos de infraestrutura e logística que fazem parte do Custo Brasil”, disse. A capacidade de produção da cadeia brasileira é de 1 bilhão de pares por ano.
Para o diretor da Abicalçados, a política antidumping adotada pelo governo para inibir a importação de itens chineses ajudaram o setor calçadista. No entanto, a proposta dos fabricantes para este ano é propor que as medidas sejam ampliadas para outros países, como Vietnã, Malásia e Indonésia.
Entre os mercados importadores dos produtos nacionais estão Estados Unidos, que lideram as compras, seguido por Argentina, Reino Unido e Itália. Neste ano, do total de 860 milhões de pares produzidos, perto de 140 milhões foram exportados.
Criação de empregos
O recorde de vendas se traduz em recuperação da criação de vagas de trabalho no país. De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, de janeiro a novembro de 2010 – os dados referentes a dezembro ainda não foram divulgados – o saldo de postos de trabalho no setor de calçados é de 51.098. Em 2009, foi de apenas 13.387 e, em 2008, ficou negativo em 8.703.
Além do Rio Grande do Sul e da cidade de Franca, no interior de São Paulo, que concentram a produção de calçados do país, têm ganhado destaque no mercado, segundo Santos, estados do Nordeste, como Ceará, Bahia e Pernambuco. Atualmente, há 20 estados produtores de sapatos.
Mais procura, mais qualidade
A tendência do mercado, na opinião de especialistas, é que sejam mantidos, neste ano e nos próximos, o aumento da demanda, da competitividade e, consequentemente, da qualidade dos produtos à venda nos mercados interno e externo.
“O setor deverá se manter assim, como está hoje. Os consumidores estão seguros de que não deverá haver nenhuma grande mudança no país, por conta do novo governo, e otimistas. Só é preciso atenção ao endividamento”, disse Ana Caroline, do Provar.
Feira
De 17 a 20 de janeiro, será realizada a 38ª edição da Couromoda no Pavilhão do Anhembi (zona norte da capital). O evento reunirá cerca de 1.000 empresas expositoras para apresentar as coleções outono-inverno de aproximadamente 2.000 marcas. As empresas participantes da feira representam 13 estados e respondem por 90% da produção brasileira do setor.

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